“Em sonhos de lapsos gramaticais, numa fugaz inspiração, tecemos palavras que são apenas noite, mas acreditamos numa pura e bela ilusão, tatear o significado da luz. Portanto, na distância silenciosa de uma palavra para a outra é que adormece a verdadeira poesia. Intocável. O que aqui temos são apenas vultos, uma adestração da palavra escrita; a fala, a voz dessas entidades adormece em algum lugar ao qual chamo de “Absurdo”, e é no tormento desse sono que me mantenho lúcido para que em horas de acaso ligeiro eu possa captar alguns sinais de vida, dessa tão ordinária sensação poética” .

sábado, 31 de julho de 2010

Persona


 
Retribuo com a ausência os abraços que me aguardam 
 A distância vence o fôlego dos que se aproximam.

Quando me acham já não significo nada.

A noite de âmbar envolve minha luz em fóssil
A palavra não tem voz suficiente e diz apenas: Adeus.

É no piscar de cada asa das pálpebras que minha imagem se revela presente
O relance da noite das pálpebras é meu lar.

Esse ninho de piolhos abriga o espírito santo dos meus mitos.

Ato os passos em âncoras de pausa e marco o compasso frenético de uma marcha
O maestro batuta em vão seus arranjos.

Insistem os vitoriosos em me dar as mãos
Eu vou à lona por orgulho
Rendo-me por gentileza e exibo no peito a mira por ofensa à vida.

Sabem de mim
Mas eu nunca saí do meu obituário.

Palpitam sobre meus atos 
E eu nunca dei um gesto sequer de vida.

Insistem em me compreender
Então me dêem as mãos e fingiremos ser:

O passeio à beira rio na mera ilusão de margens plácidas
A visão Debret dos terreiros de suor negro da fazenda de Santa Helena. 

E quem sabe nossos nomes não se confundam ao se compreender que estou sozinho
Na mais sólida das solidões.

Percebo aplausos! 
E ao serem percebidos não passam apenas de passos da platéia indo embora:

Boas vindas aos que já foram e um adeus aos que chegam,
Assim começa o meu espetáculo.

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