“Em sonhos de lapsos gramaticais, numa fugaz inspiração, tecemos palavras que são apenas noite, mas acreditamos numa pura e bela ilusão, tatear o significado da luz. Portanto, na distância silenciosa de uma palavra para a outra é que adormece a verdadeira poesia. Intocável. O que aqui temos são apenas vultos, uma adestração da palavra escrita; a fala, a voz dessas entidades adormece em algum lugar ao qual chamo de “Absurdo”, e é no tormento desse sono que me mantenho lúcido para que em horas de acaso ligeiro eu possa captar alguns sinais de vida, dessa tão ordinária sensação poética” .

quinta-feira, 3 de junho de 2010


  O Réquiem dos Miseráveis

A impressão corrupta de que existi vida na paisagem
Causa engarrafamento de hipóteses

O que não é, continua.
O que é, tenta.

Ser o “ser” das coisas constrangi a nudez da expectativa

Na majestade do horizonte os abutres encenam o réquiem dos miseráveis
Na crua carne da crueldade humana os carniceiros saciam sua bondade.

Similar às metáforas da bíblia:
Morro e ressuscito compulsivamente só para dar ao pai anônimo os dons de um Deus. 

Asas acenam, entre céu e azul, entre nuvem e branco, sem cor que dê ao nosso preconceito satisfação
A decomposição compõe na vida a inveja wagneriana aos rufos da marcha nupcial dos vermes.

No pálido das faces uma nova síntese sorri
No soluço das pálpebras
O significado acena:

Oculto.

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