“Em sonhos de lapsos gramaticais, numa fugaz inspiração, tecemos palavras que são apenas noite, mas acreditamos numa pura e bela ilusão, tatear o significado da luz. Portanto, na distância silenciosa de uma palavra para a outra é que adormece a verdadeira poesia. Intocável. O que aqui temos são apenas vultos, uma adestração da palavra escrita; a fala, a voz dessas entidades adormece em algum lugar ao qual chamo de “Absurdo”, e é no tormento desse sono que me mantenho lúcido para que em horas de acaso ligeiro eu possa captar alguns sinais de vida, dessa tão ordinária sensação poética” .

segunda-feira, 1 de março de 2010

AO REVÉS


Busco na noite amputada restituir os membros partidos

O relógio segue a rota ao revés
Causando sombras de meio-dia em meus taciturnos passos

O âmbar eterno de suor e sumo
Sedimenta o impossível na biografia anônima

Todos me chamam
Cravando o suposto nome em grito áspero

Pela fresta farpada da porta anuncio que não estou

O cutelo traz na borda a coroa coagulada
O fim de minha sorte nas arrebentações de um piscar

Ainda é a madrugada da noite partida
A madrugada da despedida amputada
Do desejo aniquilado

Tudo sob a mais pura das intenções

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