Neste instante a dor do prego cravado
A mão recheada de pavor ora aos olhos imagens da ressurreição
Para num límpido sossego
Amar a lucidez dos que me odeiam
Faço-me o Cristo das causas precárias dos ateus de Deus
Calado reconheço que sou cego
Minha virgem Mãe!
Perdôo meu Pai por não ter nome
O Cristo que sou amamenta a ilusão de um paraíso à cabeceira da cama
Minha cruz é um poleiro
Onde cacareja as plumagens dos fiéis pombos com alma de corvo
Despeno com clareza a escuridão de meus discípulos
Dou a eles o vinho da artéria indomada
Alusões a uma linhagem divina
Forma-se na paranóica profecia dos alcoólatras da fé
Minha santa Maria Madalena
Nas instituições do meu membro pede perdão por não ser Mulher
Tanto perdão
Tanta culpa e condenação
Por uma cruz chamada eternidade
Olho ao espelho e tenho feições de homem
Pego minha coroa
Faço dela uma coleira onde meu pescoço ladra o último suspiro.
Costa Melo
12/09/1980
12/09/1980
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