“Em sonhos de lapsos gramaticais, numa fugaz inspiração, tecemos palavras que são apenas noite, mas acreditamos numa pura e bela ilusão, tatear o significado da luz. Portanto, na distância silenciosa de uma palavra para a outra é que adormece a verdadeira poesia. Intocável. O que aqui temos são apenas vultos, uma adestração da palavra escrita; a fala, a voz dessas entidades adormece em algum lugar ao qual chamo de “Absurdo”, e é no tormento desse sono que me mantenho lúcido para que em horas de acaso ligeiro eu possa captar alguns sinais de vida, dessa tão ordinária sensação poética” .

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

- Poesias -

                                                                 DESPEDIDA


         
Já não estamos mais aqui
No sal da nuca a memória cristalizada lambe a ultima lembrança

Sombras iluminam a afável imagem da infância
Já não estamos mais aqui

Na ecdise das recordações uma paisagem alucina em maré os olhos
Já não estamos mais aqui...

Traças embaralham caminhos e destinos nos amigos de retrato

O álbum da vida envelhece os mais jovens e infantiliza os mais velhos
A vida que quer começar aguarda a vida que não quer acabar

 Já não estamos mais aqui

Por vez vestimos o mesmo nome
Mas a face tem outras medidas

Chegamos sem nunca ter saído
Um lugar no absurdo nos acena numa espermática intimidade  

Já não estamos mais aqui

Os nomes se decompõem nas rugas dos lábios
Que trêmulos ainda rogam por nós

 Mas já não estamos mais aqui...

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