“Em sonhos de lapsos gramaticais, numa fugaz inspiração, tecemos palavras que são apenas noite, mas acreditamos numa pura e bela ilusão, tatear o significado da luz. Portanto, na distância silenciosa de uma palavra para a outra é que adormece a verdadeira poesia. Intocável. O que aqui temos são apenas vultos, uma adestração da palavra escrita; a fala, a voz dessas entidades adormece em algum lugar ao qual chamo de “Absurdo”, e é no tormento desse sono que me mantenho lúcido para que em horas de acaso ligeiro eu possa captar alguns sinais de vida, dessa tão ordinária sensação poética” .

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Campo do Esquecer


À sombra do espelho a face Karamazov persisti
A mão degola o provável
O inverso contorna o sorriso

O pólen da palavra estigma
No caos do peito
Fecunda a chance perdida

Insetos passeiam pelo meu sangue
Enquanto busco um lugar onde o vento possa me sentir

Meu coração ainda fingi
A vida, que ainda é alvorada, aguarda a vez de fingir

Na superfície do orvalho o éden amanhece

A novidade causa tédio no passado
A idade enruga o presente

A infância da memória envelhecida
Brinca de esquecer que o tempo passou

À sombra do espelho outras faces se disfarçam:

Como um circo que acabou de chegar ao interior das Gerais
Face de crianças em velhas idades
Velhos sorrisos vencendo a trajetória do impossível
Mas de novo
O Cristo de conta-de-lágrimas dado ao peito de suor
Aguarda em alta fé
A absolvição do nada

Mas a infância no campo seco das memórias ainda brinca de esquecer.

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