
A porta de madeira crua adormecia numa lembrança despercebida
A tramela que calava a tranca
Não deixou na infância notícias
Pelas frestas por onde eu vi chegar luz da manhã e cansaço da noite
Não sei
Se era despedida
Sei que o banco na acústica muda daquela sala de tantas rezas e bençãos
Na luz fedida do querosene no fogo ordinário a queimar a luva do lampião
Sabia tudo sobre minha infância .
A morte das janelas a noite
Nos unia na beira do fogão de lenha onde as histórias da família eram bíblicas de tão falsas
Eram divinas de tantos pregos e cruzes
Eram sagradas de mito
Um Deus nos colocava para dormir
E pela manhã as janelas tinham ressuscitado
E o tal Deus adormecido
Nos sacrifícios e ressurreições das janelas, minha infância, nem morta nem viva, acontecia.
Quando a mão fria de Sebastião Valentin Costa mostrava sua face
Eu tinha um espelho
Onde gritos refletiam saudades
Mofo, ferrugens, carcaças de cupins,
O jeito de chorar do telhado colonial em gotas de qualquer orvalho
Ao cano torto da espingarda valente
Na mira cega da bala de pólvora socada pelas artérias de Cristo:
Minha infância
Esquecida de tanto ser lembrada por suas insignificâncias, envelhece.
Meus olhos infantis mergulhados em lágrimas enrugadas
Nunca vão esquecer
Pela dor ou alívio
O nome eterno do nosso sangue.
Sebastião Valentin Costa, meu avô.
2 comentários:
Versos são de autoria dele?
Vc é fotógrafo?
Estou conhecendo o blog..
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